Como sabemos as desigualdades sociais são bastante prejudiciais, fazendo com que surjam inúmeros problemas na sociedade, que como habitualmente se pensa vão afectar as camadas menos privilegiadas da população.
Mas será que estas desigualdades vão afectar apenas os menos abastados ou será que também afectam os mais abastados? Como tem sido provado em vários estudos feitos neste âmbito, é a desigualdade e não a pobreza que contribui, grandemente, para a maior parte dos problemas sociais que estão hoje em debate.
As investigações que têm sido efectuadas sobre diferentes problemas como a toxicodependência, a obesidade, as doenças mentais, a gravidez na adolescência, a falta de felicidade e de pessoas em que se possa confiar têm mostrado que quanto maior é a desigualdade no rendimento em determinado país, mais esse país sofre com determinado problema.
O crescimento económico já não pode fazer grande coisa por nós
Ao longo da história a melhor maneira de promover a qualidade de vida humana foram os padrões de vida material. Mas à medida que começamos a assistir, nos países, ao desaparecer de dificuldades relacionadas com a alimentação e habitação, vemos que o crescimento económico já não traz uma melhoria de vida como trazia.
Hoje em dia, nos países ricos, quase toda a gente deseja comer menos, e surpreendentemente, os pobres, em média, são mais obesos que os ricos.
“Faltando-nos o contacto social descontraído e a satisfação emocional de que todos precisamos, procuramos a consolação comendo em excesso, fazendo compras e gastando de forma obsessiva ou tornando-nos vítimas do consumo excessivo de álcool, de medicamentos psicoactivos e de drogas ilegais.” (Wilkinson & Pickett, 2010)
A partir de um certo crescimento económico (já atingido em muitos países), este deixa de impulsionar indicadores de bem-estar, felicidade e mesmo de esperança média de vida e tem começado cada vez mais a impulsionar taxas de ansiedade, depressão e de outros problemas. Ou seja, à medida que uma sociedade rica se torna mais rica os problemas começam a aumentar.
Isto pode ser explicado com um exemplo muito simples: Se tivermos muita fome, um pão é tudo para nós, mas a partir do momento em que já não temos fome, ter mais pão não vai ajudar em nada, até se pode tornar prejudicial.
Pobreza ou Desigualdade?
“ A pobreza não se reduz a uma determinada pequena quantidade de bens, nem a uma simples relação entre meios e fins; é acima de tudo uma relação entre pessoas. A pobreza é um estatuto social…E tem crescido… como uma distinção discriminatória entre as classes…” (Sahlins)
Com o tempo, tem-se chegado à conclusão de que quase todos os problemas que são mais comuns em classes mais baixas são também os problemas mais comuns nas sociedades mais desiguais.
Como demonstrado nos gráficos os problemas sociais e de saúde não são afectados pelo rendimento nacional por pessoa mas sim pela desigualdade de rendimentos numa população o que nos leva a crer que o maior problema nos países ricos não deriva da pobreza em si mas da desigualdade.
Por exemplo, Portugal, tendo em conta os 23 países mais ricos do mundo, é o terceiro mais desigual, recebendo os 20% da população mais rica cerca de 8 vezes o que a os 20% da população mais pobre recebe, encontra-se em segundo nos países com piores índices de problemas sociais e de saúde.
Saúde
O pensamento mais comum é que quanto mais rico for o país e quanto mais dinheiro gastar em saúde, melhor vai ser a saúde das pessoas desse mesmo país. No entanto, não existe relação, se comparamos países desenvolvidos, entre a esperança média de vida (indicador de saúde) e as despesas de saúde por pessoa. E apesar de parecer estranho esta pode estar mesmo relacionada com a desigualdade, em países ricos.
Segundo os editores do British Medical Journal:
“ A grande ideia é que aquilo que importa na determinação da mortalidade e da saúde numa sociedade não é tanto a riqueza geral dessa sociedade mas sobretudo o grau de equidade na distribuição da riqueza. Quando mais equitativamente for distribuída a riqueza, melhor será a saúde dessa sociedade” (1996)
Saúde mental
Os problemas mentais são cada vez mais falados e é fácil perceber porquê: estima-se que, em Inglaterra, hoje em dia, uma em cada dez crianças (até aos 16 anos) sofra de distúrbios mentais. Um relatório de 2008 (Childhood Inquirity) sugeriu que em cada escola secundária com mil alunos, cinquenta deles sofreriam uma depressão grave, cem estariam com distúrbios de ansiedade, entre dez e vinte sofreriam de neurose obsessiva-compulsiva e que entre cinco a dez raparigas sofreriam de um transtorno de compulsão alimentar.
As doenças mentais, como referido, são um problema gravíssimo, e como é óbvio não afectam apenas jovens. Na sondagem de 2000 no Reino Unido, 23% dos adultos apresentavam transtornos neuróticos, psicóticos ou eram viciados em álcool ou drogas. E quando se comparam países desenvolvidos é possível concluir que aquelas estão directamente relacionadas com a desigualdade de rendimentos.
Sociedades mais igualitárias
Se considerarmos como forma para medir a desigualdade a diferença de rendimentos entre os 20% da população mais rica e os 20% da população mais pobre, o país mais igualitário é o Japão, seguido pela Finlândia, Noruega, Suécia e Dinamarca.
Para se perceberem os benefícios da igualdade vamos usar o exemplo do Japão. Em 2001, sendo considerado um país seguro para se viver, ficou constatado que a criminalidade estava diminuindo e que a grande preocupação da segurança nacional eram as tragédias naturais, como os terramotos e os acidentes aéreos e ferroviários. Em relação à saúde, o país possui a maior expectativa de vida do mundo (de acordo com estimativas da ONU e da OMS) e a terceira menor taxa de mortalidade infantil. E como se não bastasse, o Japão é uma das nações líderes nos campos da pesquisa científica, especialmente de tecnologia, maquinaria e pesquisa biomédica.
Em relação à criminalidade, as diferenças são muito visíveis, como já mostrado nos dados do Japão, estes padrões também são visíveis em sociedades anabaptistas como os huteritas que para além de quase cem por cento igualitárias, obviamente que com isto não queremos dizer que são ideais, não têm qualquer registo de homicídios desde o seu aparecimento.
A melhoria constante
Apesar de tudo o que foi dito anteriormente é visível uma grande tendência histórica rumo a uma maior igualdade. Desde a abolição da escravatura, ao longo do desenvolvimento da democracia, com o estabelecimento do princípio da igualdade perante a lei, o desenvolvimento do ensino e de sistemas de saúde gratuitos e com o cada vez maior impacto da segurança social e de rendimentos mínimos, a qualidade de vida tem melhorado bastante.
Conclusão
Concluindo, as desigualdades sociais são nocivas, e dão origem a inúmeros problemas, já enumerados em cima, o que resulta numa qualidade de vida inferior nas populações mais desiguais.
O que mencionamos neste texto é apenas uma pequena parte de todos os estudos feitos neste âmbito pelo que se quiseres saber mais aconselhamos-te a consultar o site https://www.equalitytrust.org.uk/ e o livro mencionado na bibliografia.
Bibliografia:
- https://en.wikipedia.org/wiki/Kibbutz acedido a 28/02/11
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Japão acedido a 28/02/11
- https://www.hutterites.org/ acedido a 28/02/11
- https://www.equalitytrust.org.uk/
- WILKINSON, Richard, PICKETT, Kate (2010), O espírito da igualdade – Por que razão sociedades mais igualitárias funcionam quase sempre melhor, 1ªedição, Lisboa, Editorial Presença
- JOSEPH, Peter, Moving Forward, Estados Unidos da América: Gentle Machine productions, 2011. DVD