Mentalidades

 Para compreender a forma e desenvolvimento das mentalidades

            O estudo das mentalidades e do comportamento humanos constitui desde sempre matéria de investigação em áreas como a psicologia, a psiquiatria e a neurologia. Neste contexto, mostram-se particularmente importantes as teses no âmbito da psicologia do desenvolvimento.


Dicotomia Natureza versus Meio

             Numa primeira fase as posições sobre este tema eram completamente distintas, situando o desenvolvimento humana ora como um produto de forças internas e inatas, ora como um produto de forças externas e ambientais.

 

            Podemos, assim, reconhecer os grandes defensores da hereditariedade, como factos dominantes senão mesmo exclusivos, que consideravam a mentalidade algo interno e inato, proclamando que todos os traços psicológicos internos são transmitidos directamente pelos genes, de geração em geração.

 

             Por seu turno, os grandes defensores da influência do meio, principal ou exclusiva, proclamavam que todo o desenvolvimento de um indivíduo dependia do modo e das circunstâncias em que este era educado.

 

             Esta dicotomia natureza vs ambiente tem sido objecto aceso de debate, no entanto actualmente os estudos já tem evoluído para uma posição mais intermédia.


Epigénese

            Assim, é considerado que o indivíduo tem um papel activo na construção do seu próprio desenvolvimento, sendo este papel directo, por exemplo na realização de escolhas, e indirecto, ao criar ou mudar os contextos onde este desenvolvimento se manifesta. Ou seja o ser humano tende a ser considerado como um sistema aberto, que interage com o meio, transformando-se a si e ao meio, de acordo com as suas necessidades, e como uma unidade biopsicossocial, integrando dimensões de ordem biológica, cognitiva, emocional, relacional e social.

 

            Esta teoria é definida como epigénese e pode ser descrita como a perspectiva teórica construtivista em que se defende que a adaptação de cada indivíduo ao seu meio é o resultado de interacções entre os genes que herda e os estímulos extrínsecos.

 

Desenvolvimento, de acordo com Connolly (1972), não é nem um processo de desdobramento, dirigido por forças intrínsecas, nem um processo de moldagem, dirigido por forças extrínsecas, mas a combinação dos dois. Concepções sistémicas e dinâmicas de desenvolvimento exploram ao máximo a noção de influências recíprocas de processos biológicos e psicológicos, e condições do ambiente ou contexto (Ford&Lerner, 1992).

 

             Deste modo, o processo de desenvolvimento é interactivo e junta influências tanto genéticas como ambientais, ou seja o que herdamos, os nossos genes, não são uma característica, mas antes uma susceptibilidade para a desenvolver. 


Exemplos

            Um bom exemplo neste quadro são os gémeos verdadeiros. Os gémeos univitelinos partilham, à nascença, o mesmo conjunto de genes e durante o seu desenvolvimento o genoma (conjunto de todos os genes de cada indivíduo) mantém-se idêntico. No entanto, a forma como estes genes se manifestam sofre variações em resultado da interacção com o meio de desenvolvimento (variações epigenéticas). Simplificadamente, o que ocorre é, a activação ou inibição da expressão de alguns genes, permitindo que existam diferenças entre gémeos. Graças a estas variações é possível concluir que um mesmo genótipo (constituição genética do indivíduo) pode originar diferentes fenótipos (características apresentadas por um indivíduo), ou seja, o ambiente tem influência no desenvolvimento e comportamento humanos.

 

            Outro exemplo desta dupla influência são as chamadas crianças selvagens. São consideradas crianças selvagens as crianças que cresceram e se desenvolveram fora da sociedade, da cultura e da civilização. Ou seja, crianças que se desenvolveram longe de modelos humanos e relações sociais. Estas crianças tinham genes para se desenvolverem como qualquer outra, mas quando foram e são encontradas, os casos evidenciam grande dificuldade de interacção, ausência de bipedismo, a visão e o olfacto muito desenvolvidos, falta de expressão facial, insensibilidade à temperatura, preferência por alimentos crus e indiferença em relação à sexualidade. Com base em dados de investigações feitas com crianças selvagens foi possível concluir que as interacções precoces com outros seres humanos são essenciais para o desenvolvimento da linguagem, da cognição e de competências afectivas, sociais e culturais.

 

            Em suma, para além da influência dos genes a influência do meio em que vivemos é indispensável no processo de desenvolvimento do ser humano.


As investigações continuam

            Como acontece em quase todas as investigações científicas, sabe-se que o desenvolvimento humano é condicionado por vários factores, mas estamos ainda longe de saber com suficiente consistência qual o peso relativo de cada um dos factores ou se alguma vez tal será possível sabê-lo.

 

           Ultimamente, têm sido feitos novos estudos sobre este tema nomeadamente em áreas como a Psiconeuroimunologia, onde para além de se relacionar o comportamento e o sistema nervoso é notável também a relação do sistema endócrino e imunológico com estes dois. O principal interesse da PNI são as interacções entre os sistemas nervoso e imunológico e as relações entre processos mentais e saúde. E a psicomotricidade, onde o objecto de estudo é o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas,  afectivas e orgânicas. 


Bibliografia:

PIRES, Catarina, BRANDÃO, Sara (2009) PSI 12 B Parte 2. 1ª Edição, Lisboa: Areal editores

Perrotti, A.C., Manoel, E.J. Uma visão epigenética do desenvolvimento motor. Rev. Bras. Ciên. e Mov. 9 (4): 77-82, 2001.

https://rbi.fmrp.usp.br/psiconeuro/cardoso.pdf acedido a 18/02/11

https://pt.wikipedia.org/wiki/Psiconeuroimunologia acedido a 18/02/11

https://pt.wikipedia.org/wiki/Psicomotricidade acedido a 18/02/11


Agradecemos à Professora Luisa Manaia, da disciplina de Psicologia, por ter realizado a revisão bibliográfica desta parte do trabalho.